domingo, 22 de dezembro de 2013

Equilibrista desequilibrada

Vou na esquina comprar cigarro para ver se sai fumaça desse circo pegando fogo. Que queime por inteiro, penso; já não basta a queimadura por dentro. E não bastava mesmo. É como se o mágico errasse o truque e enfiasse a faca na assistente. Ou como se o motoqueiro, por descuido, perdesse pro globo da morte. Ou se o palhaço esquecesse a piada.
Ou, talvez, a equilibrista tenha se desequilibrado e caído do alto.
Estou no chão. E, daqui de baixo, assisto o fogo subir pelas estruturas e queimar toda essa lona que nos protege do lado de fora. Ouço o ruído das madeiras; sinto o cheiro do queimado. Na boca, o gosto salgado; na pele, o arder do machucado - o teto está caindo, mas eu não me movo.
Talvez a equilibrista tenha quebrado a perna. Ou, talvez, ela tenha desistido por tanto cair.

Ouvi dizer que a assistente está com medo de arriscar.
E que motoqueiro teve um pesadelo e desistiu de se apresentar.
Que o palhaço já não sorri mais. E que a equilibrista é uma desequilibrada que não consegue equilibrar mais nada.

Avisem a todos que meu espetáculo está no fim: vou na esquina comprar cigarro - e espero nunca mais voltar.
 

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