sábado, 8 de fevereiro de 2014

Eu nunca sei sobre o que falar.

Eu poderia falar sobre esse vento que está entrando pela porta entreaberta. Eu poderia. Sobre o zunido que ele faz quando vem ao meu encontro e sobre como ele remexe as flores quando se bate nelas. Por que ele bate nas flores? São tão delicadas. Eu poderia falar que eu queria que você entrasse por essa porta entreaberta. E a fechasse pra nunca mais sair. E se batesse em mim já que eu não sou tão delicada assim. E ficasse por aqui fazendo algum barulho pra que eu não me esqueça de como é ter você por perto. Porque eu morro de medo de não ter você por perto. Ou de esquecer da sensação (porque eu gosto da sensação). 
Eu poderia falar sobre a chuva que começou a cair e do frio que está lá fora. E aqui dentro também, sem você. Como vai você? E o tempo aí? Deve estar frio. Você sempre foi frio. Ou eu que sempre fui assim? Eu nunca gostei do calor, afinal. Você sabe o quanto eu sou alérgica a ele e que, só de pensar em calor, minha rinite ataca. E eu nem sei se isso é possível. Eu deveria ser estudada. E isso me faz lembrar daquela mania ridícula que você tinha de me estudar, de me analisar a todo momento. Céus. Como eu detestava aquilo. Então esqueça; eu não quero ser estudada. Eu não preciso. Eu tô legal. Quer dizer. Não tão legal assim. Mas a gente vai levando. Eu levanto e vou levando. E eu queria que você me levasse junto para onde você fosse. Pra qualquer lugar.
Só me tire daqui. Só me tire de mim. Só não me deixe só. Sabe. Depois que você foi embora, eu ando com um pavor horrível de ficar só mesmo sabendo que não deveria ser assim. Mas é. Eu ando sozinha à procura de alguém pra me acompanhar. Esses dias, ajudei uma senhora a atravessar a rua. Ela me lembrou sua avó. Eu gostava da sua avó porque eu nunca pude conhecer a minha avó então me apeguei a sua. E aí eu ajudei aquela senhorinha a atravessar a rua. Não porque ela me lembrava a sua avó que fazia o papel da minha, mas porque eu não quis atravessar a rua sozinha. Eu não quero atravessar mais nada sozinha. Eu tenho medo. Tenho medo de pisar em falso e cair como aquela vez que escorreguei e todo mundo viu. Tenho medo de me verem no chão. Logo eu que sempre tive o pisar seguro. E o pesar também
Acho que afrouxei.
Eu devo precisar mesmo ser estudada. Ou não. É. É melhor não.
Eu não preciso de cura. Eu sou assim. Só... Só. E eu vou levando.

(Eu poderia te falar qualquer coisa. Mas você sabe como eu acho que as coisas que eu digo nunca parecem boas o suficiente. Por isso eu as deixo guardadas, com mais um monte de coisa que não termino. Ou que não são boas o suficiente. Assim como eu. Eu nunca fui boa o suficiente. Eu devo, então, ser um grande rascunho da vida. Ela deve me usar, de quando em vez, pra ver o que funciona. Mas nada nunca funciona. Sempre acontece alguma coisa errada ou, então, eu deixo pra lá antes de terminar. Porque vai dar errado, você entende? Eu devo estar jogada, por aí, em qualquer caderno velho do universo. Um esboço de vidas que o universo - não - quer no mundo. Um esboço ambulante. É, devo ser isso mesmo - me descobri. Um grande esboço ambulante que nunca foi terminado porque não era bom o suficiente. E só Deus saber se um dia será.)
 

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