terça-feira, 28 de abril de 2015

Só vim conferir se está tudo bem.

Parei meu carro em frente ao prédio dela. Não por questões de perseguição, tenha dó, mas sua rua acabou por cruzar meu caminho para um novo bar que abriu e lá estava ela. Andando pela calçada entre as sombras da luz fraca, acompanhada de seu cachorro. Não pude evitar. Eu, que há anos não a via e nem sobre ela ouvia falar, não pude evitar assisti-la por alguns instantes e ver que ela está bem. Sempre gostei do seu caminhar, afinal, e da forma que ela carregava a vida em seus ombros, de um jeito que parecia não pesar nada. Ela era leve, ainda que fosse viciada em brigadeiro e pipoca.
Estacionei do outro lado da rua e a observei. Ela pegou seu celular no bolso de trás de seu short jeans, olhou para a tela e sorriu. Digitou, esperou e gargalhou. Aquela risada gostosa que ela soltava vendo algum besteirol no domingo a noite, dizendo que era pra receber a segunda-feira bem relaxada. Ela odiava assistir dramas porque ficava triste e dizia que não precisava de comédia romântica porque já tinha a mim. Espero que, agora, ela já tenha outro alguém.
Guardou o celular e puxou então um maço de cigarro. Pegou um, levou à boca e o acendeu. Quando será que ela havia começado a fumar? Não a vejo desde quando nossos caminhos e vontades e gostos começaram a tomar caminhos diferentes. Na faculdade, as coisas começam a mudar e serem do jeito que devem ser, e eu acho que eu não era do jeito que eu deveria ser para estar com ela e nem ela era como deveria ser para estar comigo. E então eu não a vejo desde aí, quando ela ainda tinha vergonha de usar roupa curta por causa das pernas finas e tossia quando sentia o cheiro do cigarro. Mas agora ela fuma tão charmosamente que até me dá vontade de experimentar e exibe suas pernas que continuam finas - mas deliciosamente gostosas.
Seu cachorro dá um latido e eu reparo nele. O Brigadeiro. Dei a ela de presente em algum de nossos aniversários de namoro; fui na feirinha, adotei - porque ela sempre se comovia com os cachorros que procuravam um lar -, coloquei uma fita em seu pescoço e fui encontrá-la. Ela chorou de emoção e o nomeou de Brigadeiro, porque dizia que ele tinha cor de brigadeiro com aquele pelo marrom escuro, mesmo que agora ele já esteja um tanto grisalho. Ele devia estar sentindo meu cheiro, afinal, e eu tive que lutar para não descer do carro e ir brincar com ele. Mas ela então o pegou no colo e entrou no prédio. E, ao fechar o portão, ela parou e olhou.
Não sei se me viu pelo vidro escuro. Não sei se reconheceu o carro mesmo que eu já tivesse o mudado. Não sei se sentiu meu perfume ou se foi alguma dessas coisas paranormais dos mil e um sentidos que a mulher tem. Mas ela parou e olhou para o outro lado da rua, onde eu me encontrava. Ela estática, eu nem respirava.
E aí eu olhei para o seu cabelo diferente, para sua blusa de uma banda que antes ela não gostava, pro short que ela nunca teria usado, para suas pernas que pareciam estar mais definidas. Olhei para o cigarro que se equilibrava entre seus dedos e para cachorro já envelhecido. E ela, que já era outra, olhou uma última vez, sorriu e seguiu seu caminho.
O tempo passou, enfim. O que um dia já existiu, foi embora.
E nós também.
 

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